Fiquei feliz ao ver o
rosto complacente daquela senhora à beira da minha cama. Eu não sabia
exatamente onde estava e a febre alta me causava confusão mental. Mas, ao
acordar, senti um imenso medo de estar sozinho.
Quão aliviado me senti
ao ver que aquela senhora me olhava como a um filho, embora eu não me lembrasse
de já tê-la visto. Tentei me sentar, mas ela, gentilmente, tocou-me a testa e
me fez permanecer quieto, sob o cobertor. Pegou um pano e umedeceu-o em uma
pequena bacia contendo água e álcool, o que eu pude identificar pelo cheiro.
Fiquei imóvel,
obedecendo a uma ordem muda, transmitida unicamente pelo cuidado com que a
senhora me tratava. Lembrei-me de minha mãe, de quando ela, incansavelmente, se
preocupava com meus delírios noturnos. Me senti tão cheio de cuidados que até
sorri. Ela também sorriu, como se já esperasse aquela minha reação.
No embalo desse
surpreendente carinho, acabei adormecendo.
Acordei, no outro dia,
me sentindo bastante revigorado. Consegui engolir todas aquelas sopas, caldos e
coisas sem graça que são servidas nos hospitais. Eu estava feliz. Quase ao meio
dia, vi a senhora (eu não conseguia olhá-la como uma simples enfermeira) entrar
no quarto, ir direto à cama de outro paciente e sorrir para mim, pouco antes de
sair. Meu quadro já apresentava uma considerável melhora.
Passada uma semana, eu
me vi tendo uma recaída. A febre voltara violenta e as dores no abdômen também.
Vomitei várias vezes durante a noite, enquanto a senhora, pacientemente,
limpava toda a minha sujeira e acalmava as minhas convulsões. Mas, apesar dessa
minha recaída, os médicos se demonstravam otimistas. Eu estava melhorando e
isso os agradava imensamente. Graças à “enfermeira noturna”, da qual eu nunca
lembrei de perguntar o nome.
Passaram-se mais uma...
duas... três noites em que ela simplesmente entrava no quarto, ia até uma das
camas e, sem muito demorar-se, ia embora. Eu, por dias, me senti abandonado,
pois vi que, enquanto uma enfermeira fria e apática se encarregava de meus
cuidados, ela, a senhora, dedicava sua atenção a outro. Sentia-me enciumado e
já me via saindo daquele hospital sem que ela voltasse a mim. Até que, em uma
noite, ela veio novamente sentar-se à beira de minha cama, segurou-me a mão
como se pedisse desculpa e, num gesto suave, levantou-me sorrindo. Eu a puxei
como se a tirasse para dançar, ela, ignorando a idade, encaixou-se em mim.
Divertidos, rodopiamos alguns segundos, até que meus olhos alcançaram a figura
de mim mesmo, inerte e pálido sobre a cama.